Eulina Lavigne – Terapeuta Integrativa

A dor da Alma

Humberto Maturana e Francisco Varela, ambos PhD em biologia pela Universidade de Harvard, ensinam que há uma inseparabilidade entre ser de uma maneira particular e como o mundo nos parece ser. Ou seja, em todo ato de conhecer faz surgir um mundo. Todo fazer é um conhecer e todo conhecer é um fazer. Segundo eles, a ação e a experiência se referem a tudo o que acontece em relação ao mundo que nos rodeia no plano físico, assim como a todas as dimensões no nosso viver (MA¬TURANA; VARELA, 2001). E embora nos presenteiem com esse novo olhar, percebemos que a ciência ainda insiste na objetividade e resiste à subjetividade, temendo que esta última coloque em dúvida as certezas científicas.

Isso é muito evidente quando, enquanto pacientes, percebemos como os profissionais médicos ocidentais são preparados para atuar na dimensão física, privilegiando a doença e a medicalização e que muitas vezes não soluciona o sofrimento que se manifesta não só no corpo físico, como no emocional e mental.

Do ponto de vista xamânico, a maioria das doenças são causadas pela perda da alma. A alma é a nossa essência vital que se manifesta através do nosso corpo. Sandra Ingerman, em seu livro O Resgate da Alma (INGER¬MAN, 2006), afirma que a alma abriga as nossas emoções, sensações e sentimentos e que quando sofremos um trauma, uma parte da nossa essência vital separa-se de nós para sobreviver à experiência, evitando o impacto total da dor, o que significa que uma parte da nossa alma sofre a dor e a outra parte dissocia-se para evitá-la.

A parte que sofre manifesta a dor através de uma sensação, como uma resposta de que algo está fora do fluxo do sistema fisiológico trazendo desconfortos. E a dor se expressa de forma crônica quando o indivíduo vivencia uma sequência de experiências com traumas de interferências intensas no sistema nervoso central. É o caso da fibromialgia, por exemplo.

Segundo estudos da neurofisiologia da dor, a mente e o corpo estão estritamente relacionados. E vamos elucidar como a dor se estabelece, como podemos olhar para essa parte da alma que de um determinado ponto negou essa dor, para que reestabeleça a conexão consciente entre corpo e alma, resgatando a saúde e o bem-estar.

A dor é uma sensação desagradável, constituindo um dos componentes essenciais do sistema de defesa do organismo. Fornece um rápido aviso ao sistema nervoso para iniciar uma resposta motora e minimizar o prejuízo físico; em contrapartida, na cronicidade não auxilia evidentemente a sobre¬vivência. Pode ser provocada por estímulo térmico, mecânico ou químico, que ocasiona ferimento tecidual (FEIN, 2011).

Existem órgãos sensoriais especializados que detectam a dor: os nociceptores, que constituem o sistema periférico. Os nociceptores se encarregam de levar a informação recebida através de uma ampla rede de neurônios, passando pela medula espinhal até o tálamo, que funciona como uma estação central e distribui para diversas partes do cérebro que dizem respeito às nossas sensações, emoções e comportamentos dolorosos.

A Dra. Cristiane Tavares, médica especialista em dor, em seu artigo publicado pelo centro de tratamento da dor (TAVARES, [2012]), esclarece que nesse momento a dor deixa de ser um simples estímulo de um nociceptor para virar uma emoção, uma experiência de vida, e conecta-se com circuitos neurais relacionados a experiências de vida pregressas e questões atuais, pensamentos, modo de ver o mundo, medos, desejos etc. Por isso a dor é uma experiência individual e diferente para cada pessoa. Segundo ela, a dor que sentimos é sempre o resultado dos estímulos que causam dor menos os que inibem a dor. Isso porque existe um sistema chamado descendente que desativa a dor e que realiza um caminho inverso ao do sistema nociceptivo.

O tempo todo sentimos e inibimos a dor. Esse sistema de ativação e desativação é que permite a não identificação da dor. E quando o sistema periférico e o central do sistema nociceptivo estão desajustados, o circuito fica hiperativo e a dor se transforma em uma dor crônica. O corpo então se “acostuma” com a dor, criando um círculo vicioso e outros circuitos deixam de funcionar. A dor passa a ter a mesma função que uma droga no sistema de um indivíduo viciado, alterando, assim, o seu humor, o seu interesse por diversas áreas da vida e afetando a sua concentração.

Em nosso próximo artigo, vamos falar como a terapia naturalista conhecida como Experiência Somática vem contribuindo para a solução de dores crônicas.

Artigo publicado no jornal Diário de Ilhéus em 25/08/2017.

Eulina Lavigne é mãe de três filhos, Administradora, Terapeuta e Palestrante com formação em Constelação familiar pelo Hellinger-Institut Landshut (Alemanha), especialista em Trauma pelo Instituto Junguiano da Bahia. Formada em Experiência Somática e membro da Associação Brasileira de Trauma.

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Eulina M. Lavigne

Sou ariana/canceriana, que em busca de mim encontrei o meu lugar enquanto Terapeuta Transpessoal. Fui alta executiva durante 10 anos e aos 33 anos, em 1994 percebi que aquela não era a minha missão. E me tornei desde esse tempo um buscador de mim. Pois entendia que a partir de mim poderia cuidar do outro. E nessa busca conheci a Bionergética, os Grupos Operativos, DGCC - Diálogo e Gestão Criativa de Conflitos, as Constelações Familiares, as Práticas Integrativas, O Reiki Tradicional e o Xamânico, a Argiloterapia, a Experiência Somática, A Psicotraumatologia Junguiana, e a minha mais recente A Busca Meditativa. E hoje concluo a cada dia, que essa busca não tem fim. Sempre se inicia a cada dia e cada dia é um dia de rencontro. Entendi que quando cuido do outro também cuido de mim. E que essa é uma história que não tem fim.

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Sou ariana/canceriana, que em busca de mim encontrei o meu lugar enquanto Terapeuta Transpessoal. Fui alta executiva durante 10 anos e aos 33 anos, em 1994 percebi que aquela não era a minha missão. E me tornei desde esse tempo um buscador de mim. Pois entendia que a partir de mim poderia cuidar do outro. E nessa busca conheci a Bionergética, os Grupos Operativos, DGCC - Diálogo e Gestão Criativa de Conflitos, as Constelações Familiares, as Práticas Integrativas, O Reiki Tradicional e o Xamânico, a Argiloterapia, a Experiência Somática, A Psicotraumatologia Junguiana, e a minha mais recente A Busca Meditativa. E hoje concluo a cada dia, que essa busca não tem fim. Sempre se inicia a cada dia e cada dia é um dia de rencontro. Entendi que quando cuido do outro também cuido de mim. E que essa é uma história que não tem fim.

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